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Tecido inteligente transforma roupas em assistentes de voz com inteligência artificial

  • kauric
  • Oct 22
  • 3 min read
Ilustração conceitual mostrando uma pessoa vestindo uma camisa com circuitos luminosos integrados ao tecido, emitindo ondas sonoras — metáfora da fusão entre corpo humano e inteligência artificial.
Tecido inteligente que escuta a voz e se conecta à inteligência artificial — metáfora da fusão entre corpo e tecnologia.

Pesquisadores de Taiwan e da China criaram um tecido inteligente capaz de ouvir a voz humana e se conectar a sistemas de inteligência artificial. Com essa tecnologia vestível, será possível controlar equipamentos apenas com a fala, sem precisar de botões, fios ou telas.


Em breve, seu casaco pode conversar com o ChatGPT, sua camisa pode ligar o GPS, seu uniforme pedir socorro sozinho, e até o pijama pode medir a qualidade do sono pelos sons da respiração. Parece ficção científica, mas a ideia já saiu do laboratório e promete transformar a forma como nos comunicamos com a tecnologia.


A roupa que ouve e responde


O estudo, publicado na revista Science Advances, apresenta o A-Textile (Acoustic Textile), um tecido acústico triboelétrico com IA capaz de ouvir, reconhecer e interpretar comandos de voz diretamente na roupa.


O A-Textile transforma fibras têxteis em sensores de fala ultrassensíveis, dispensando microfones tradicionais e cabos. Ele utiliza cargas eletrostáticas geradas naturalmente pelo atrito do tecido. Essas cargas captam as vibrações sonoras da voz e as convertem em sinais elétricos.


Um modelo de deep learning (aprendizado profundo) identifica as palavras e aciona respostas automáticas: ligar luzes, abrir mapas, tocar músicas, enviar mensagens ou até interagir com a inteligência artificial.


Nos testes, o tecido foi costurado em uma manga de camisa e conectado via Wi-Fi a diferentes dispositivos. Com comandos simples como “ligar o ar-condicionado” ou “abrir o Google Maps”, a roupa executou as ações com precisão de até 97,5%. Em outro teste, os cientistas perguntaram: “O que é o ChatGPT?”. O tecido entendeu, enviou a pergunta e reproduziu a resposta. Ou seja, a roupa literalmente conversou com a IA.


Como funciona o tecido inteligente


A inovação une nanotecnologia, eletrônica e inteligência artificial. O segredo está nas nanoflores de dissulfeto de estanho (SnS₂), minúsculas partículas que aumentam a capacidade de captar e manter cargas elétricas dentro do tecido. Quando a voz vibra a superfície, essas cargas se movem, criando o sinal que é interpretado pelo sistema.


O material responde a frequências entre 80 e 900 hertz, a mesma faixa da fala humana, e gera até 21 volts de energia, suficiente para alimentar seus próprios sensores.É flexível, lavável e resistente à umidade, ao calor e ao uso contínuo. Pode ser dobrado e lavado até nove vezes sem perda de eficiência.


Mais do que uma curiosidade científica, o A-Textile representa um protótipo de interface autônoma vestível, com potencial para ser integrado em uniformes, roupas esportivas, jalecos médicos ou equipamentos de resgate.


Mais que uma roupa; uma assistente pessoal


Imagine um paramédico em uma ambulância: mãos ocupadas, ambiente barulhento. Ele diz “iniciar rota para o hospital” e o celular executa o comando automaticamente. Em uma fábrica, um técnico pode pedir “abrir painel de status”; em casa, um idoso pode dizer “chamar ajuda”, e o sistema faz a ligação de emergência.

O tecido se comporta como uma extensão sensorial e cognitiva do corpo, uma pele digital que ouve, entende e age.


A fusão entre voz, roupa e inteligência


A integração entre voz, IA e tecnologia vestível redefine o modo como interagimos com o mundo digital. Se até agora precisávamos tocar telas ou falar com alto-falantes inteligentes, o futuro aponta para uma comunicação mais orgânica, em que o corpo é o próprio comando.


Para o pesquisador Ying-Chih Lai, coordenador do estudo, “a próxima geração da computação não será portátil, será vestível”. Ele acredita que essa inovação deve alcançar o cotidiano em áreas como saúde, segurança, esportes e educação, tornando a interação homem-máquina quase invisível.


O que vem a seguir na tecnologia vestível


O protótipo ainda depende de um celular ou processador externo para interpretar as ações, mas os cientistas já trabalham para miniaturizar todos os componentes dentro do próprio tecido. A meta é criar roupas autônomas, capazes de pensar, reagir e aprender.


Se concretizada, essa revolução pode ser tão simbólica quanto o surgimento do smartphone — uma virada completa na relação entre o humano e o digital. Porque o futuro da tecnologia não estará mais nas nossas mãos; estará sobre a nossa pele.


Sobre o autorAndré Kauric de Campos é jornalista científico e coordenador do projeto Comunicar Ciência. Atua na ponte entre conhecimento e sociedade, transformando temas complexos em conteúdos que informam, provocam e inspiram decisões mais conscientes.




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