Como prevenir o câncer: a força do próprio corpo
- kauric
- Sep 8
- 2 min read
Updated: Oct 6

Durante décadas, a explicação mais difundida para o surgimento do câncer foi a de que ele começa com uma mutação no DNA de uma célula normal. Essa alteração permite que a célula se multiplique sem controle, burlando os mecanismos de defesa do organismo. Com o tempo, formam-se tumores e células defeituosas se espalham pelo corpo.
Mas novas pesquisas estão mudando essa narrativa. Estudos recentes mostram que mutações associadas ao câncer não são exclusivas de tecidos doentes. Elas estão presentes também em tecidos saudáveis. Em pessoas de meia-idade, por exemplo, metade da superfície do esôfago e até 10% do estômago apresentam células com essas chamadas mutações “motoras” do câncer.
A grande questão é: por que essas células defeituosas não evoluem sempre para tumores? A resposta começa a ser desvendada. Pesquisadores descobriram que células com DNA saudável e mutações benéficas conseguem impedir que células defeituosas avancem. Esse mecanismo de “competição celular” pode ser um poderoso aliado na prevenção do câncer.
A disputa entre células
Em experimentos com ratos, cientistas observaram que células portadoras de certas mutações eram capazes de “deslocar” vizinhas potencialmente cancerígenas. Em alguns casos, drogas já conhecidas, como a metformina — usada no tratamento de diabetes —, conseguiram equilibrar essa disputa, fortalecendo células saudáveis contra as prejudiciais.
Por outro lado, fatores como obesidade e dietas ricas em gordura favoreceram justamente as células problemáticas. Esse achado sugere que a prevenção do câncer pode passar por terapias que incentivem o crescimento das células protetoras, ao mesmo tempo em que se controlam condições ambientais e metabólicas que fortalecem as células nocivas.
Inflamação: o gatilho invisível
Outro fator decisivo é a inflamação crônica. Normalmente, a inflamação é parte do processo de cicatrização: o corpo envia células de defesa para reparar tecidos lesionados. Mas, diante de irritações persistentes — como poluição do ar, refluxo ácido, radiação solar ou infecções bacterianas —, a inflamação contínua pode se transformar em combustível para o câncer.
Um estudo de 2023, publicado na revista Nature, mostrou que a poluição atmosférica pode desencadear câncer de pulmão em não fumantes, justamente por promover inflamações que estimulam células mutantes a se transformarem em tumores.
Novas estratégias de como prevenir o câncer
Com base nesses achados, os cientistas estão repensando como prevenir o câncer. Em vez de focar apenas em destruir células defeituosas, a ideia é fortalecer o microambiente saudável do tecido, estimular mutações benéficas e, em alguns casos, controlar a resposta inflamatória do corpo.
Drogas que bloqueiam moléculas inflamatórias específicas já mostraram resultados promissores em animais expostos à poluição, reduzindo a formação de tumores. Se confirmadas em humanos, essas terapias podem beneficiar especialmente pessoas com alto risco genético, ex-fumantes ou pacientes já tratados para câncer.
Um futuro promissor
As descobertas não eliminam os riscos trazidos por fatores ambientais ou genéticos, mas apontam para um caminho inovador: usar a própria biologia do corpo como aliada. Quanto mais se compreender a “guerra silenciosa” entre células saudáveis e defeituosas, maiores serão as chances de desenvolver estratégias eficazes de como prevenir o câncer.


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